A fala do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, criticando o que chamou de "excessos legislativos" em projetos que restringem decisões da Corte, acendeu o alerta entre ministros do governo e aliados de Lula no Congresso. Para esse grupo, o ex-ministro da Justiça reacendeu um clima de tensão institucional em um momento em que o Planalto tenta acalmar os ânimos e articular votações importantes.
Segundo apurou a coluna, ministros do governo avaliam que Dino deveria "baixar o tom" e que suas declarações têm criado desgastes desnecessários para o Executivo, que tenta manter pontes com o centrão e evitar novas derrotas em votações simbólicas.
"Cada fala dessas vira munição para os que já querem bater no STF. E quem paga a conta somos nós, aqui no dia a dia da articulação", reclamou um interlocutor de Lula no Congresso.
Busca por Lula
O desconforto chegou ao ponto de ministros próximos ao presidente procurarem o próprio Lula para pedir que ele converse com Dino nos bastidores e tente conter futuras manifestações públicas mais duras.
Apesar de respeitarem a autonomia do Supremo, auxiliares do presidente consideram que a fala do novo ministro, em entrevista a uma rádio do Maranhão, "extrapolou" o tom institucional e atrapalha o esforço de pacificação entre os Poderes.
"Não dá para todo mundo no governo apagar incêndio e ele acender outro no meio do caminho", disse um assessor palaciano.
Receio de pauta-bomba
Parlamentares da base temem que as críticas de Dino deem fôlego a propostas de retaliação ao STF, como a que limita decisões monocráticas de ministros da Corte, ou mesmo à discussão sobre mandatos para os integrantes do Supremo.
A ala política do governo agora corre para tentar desmobilizar o avanço dessas pautas. A avaliação é de que qualquer sinal de confronto direto com o Judiciário pode ser explorado pela oposição e até por setores do centrão que ainda esperam mais espaço no governo.
Silêncio calculado
Até o momento, nem o Palácio do Planalto nem o STF se manifestaram oficialmente sobre a repercussão das falas de Dino. A orientação, por ora, é de silêncio — para evitar que a crise ganhe ainda mais combustível.
Nos bastidores, porém, o recado já foi dado: o presidente quer foco total na agenda econômica e menos protagonismo em embates institucionais.